Ninguém avisou que ser adulto ia ser assim. E mesmo se tivessem avisado, talvez a gente não tivesse escutado. Porque crescer, na nossa cabeça, era ganhar liberdade pra fazer o que desse vontade — não carregar o peso invisível de tantas responsabilidades que viriam juntos. E agora a gente entende que é mais o contrário.
É 2025, e a adultez tá no centro de tudo — não como ponto de chegada, mas como espaço de confronto entre as expectativas que criamos sobre quem seríamos e a realidade de quem conseguimos ser. Não é uma crise, é um novo cenário. E não é só uma fase: é um jeito novo de estar no mundo.
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A Consumoteca chamou de Adultopia. Um espaço simbólico e cultural onde o adulto não é mais o que vinha depois da juventude ou antes da velhice — mas um terreno estranho, fluido e cada vez mais povoado por dúvidas, sobrecargas e pequenas alegrias fora do feed.
Essa virada não vem com um aviso. Ela aparece no dia em que o boleto vence e você comemora porque conseguiu pagar. Quando comprar um tapete novo te emociona mais que uma balada. Quando uma tarde de silêncio é mais luxuosa que um hotel 5 estrelas. Quando você se pega reassistindo a mesma novela pela terceira vez. Quando até o conforto de saber o final já conhecido parece melhor do que o caos do imprevisível.
Ser adulto, hoje, também é buscar segurança emocional naquilo que já tocou a gente antes. Se antes o espírito da juventude nos empurrava para o novo, agora é o familiar que nos oferece respiro. Afinal, a vida adulta já nos surpreende o suficiente — e talvez o desejo, o consumo e o entretenimento estejam encontrando força justamente nesse retorno ao que é conhecido, abastecidos por uma (falsa) sensação de controle e conforto emocional. Um filme velho visto com olhos novos. Uma reprise que acalma. Uma memória reeditada pra caber no presente.
Essa busca pelo conhecido tem sido chamada de “preguiça terapêutica” pela WGSN — uma tendência que aponta para o uso da nostalgia como forma de autocuidado emocional em tempos de incerteza. Reassistir uma série, cozinhar a receita da avó, ou ouvir as músicas dos anos 2000 tem menos a ver com passado e mais com tentativa de aterramento no presente.
E isso não é retrocesso. É cuidado.


E por isso não dá pra tratar a adultez como um perfil etário. Tem jovens se responsabilizando cedo demais. Tem gente de 50 reconstruindo tudo do zero. Tem quem finja que tá tudo sob controle, mesmo no caos. E quem esteja no caos… mas também esteja feliz ali. Essa é a vida real — e ela não tá mais esperando um final de semana pra acontecer.
Na pesquisa Adultopia, foram ouvidos 1.600 brasileiros, entre 18 e 65 anos, de todas as classes sociais. E os dados dizem muito: 45% das pessoas fariam um curso pra aprender a ser adulto. 53% dizem que hoje são mais felizes do que em qualquer outro momento. E 1 em cada 4 acelera o áudio no WhatsApp porque nem no papo tem tempo pra esperar. A verdade é que a gente não parou de buscar o que sempre quis: controle, leveza, reconhecimento. O que mudou foi o cenário. E as possibilidades.
Fonte: Consumoteca, Adultopia (2025)
O problema é que muita marca ainda tenta falar com o adulto como se ele tivesse saído de um comercial de margarina. Tudo certo, tudo pleno, tudo resolvido. Mas o adulto real tá num outro lugar: ele tá tentando. Tentando equilibrar boleto e prazer, saúde mental e produtividade, responsabilidade e desejo.
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Falar com o novo adulto é entender esse equilíbrio delicado entre ser quem se quer — e dar conta de tudo o que precisa ser feito. É reconhecer que, entre a promessa da juventude e o mito da velhice, existe um espaço onde a gente só quer viver com um pouco mais de sentido — e um pouco menos de peso.
A adultez virou um desejo cultural, mas não porque todo mundo quer pagar conta e agendar retorno no ortopedista. Ela virou desejo porque carrega junto a autonomia, a liberdade, a construção da própria história. Mesmo que tudo ainda pareça improviso.
É esse o novo território. Onde a maturidade não é o fim da linha, mas o meio do caminho. E talvez o maior sinal de crescimento seja esse: parar de buscar a resposta certa e começar a fazer as perguntas certas.
Como a gente quer viver agora?
Com quem a gente quer dividir o caminho?
E que tipo de adulto a gente quer ser, se ainda for tempo de escolher?
No fim, sempre é.
✨ o que isso muda pra marcas?
a adultez não tem mais RG.
e entender o novo adulto é entender que ele pode ter 20 ou 70 — e estar no mesmo dilema:
como equilibrar realização com leveza?
As marcas que quiserem fazer parte dessa conversa vão precisar ir além de segmentações etárias e entrar em conexões reais, que respeitam o tempo, a fase e o fôlego de cada um.
Porque se antes o desejo era não envelhecer, agora talvez o desejo seja existir com sentido em qualquer fase da vida. Com tempo. Com escolhas que façam sentido hoje, mesmo que amanhã tudo mude de novo.
E é nesse espaço — entre a leveza e a sobrecarga, entre o improviso e o cuidado — que as marcas mais relevantes do futuro vão morar.